segunda-feira, 16 de março de 2009
António Botto - maldito ainda, 50 anos após a sua morte
No dia em que se completa 50 anos sobre a morte de António Botto, o escritor Eduardo Pitta profere uma palestra intitulada “Toda a verdade será castigada” na Casa Fernando Pessoa. A casa é um espaço habitual de poesia e daí não ser de estranhar que acolhe esta palestra sobre um dos poetas malditos da literatura portuguesa. Mas, na realidade, há outros elos entre Botto e o autor da “Mensagem”. António Botto gozou sempre de uma certa protecção de Pessoa que prefaciou obras suas e através da sua autoridade caucionou a obra de Botto, não que sua poesia precisasse, mas Botto enquanto Pessoa viveu esteve protegido de um já característica maledicência lusitana. Homossexual assumido, filho de um fragateiro, sem grandes habilitações académicas, Botto estava naturalmente “desprotegido” e era um alvo fácil de alguma chacota, bem contrário do seu companheiro de borgas, Raul Leal, sempre salvo pela família burguesa a que pertencia.
Eduardo Pitta autor de contos e romances de teor homossexual dirige desde o ano passado a reedição das obras completas de Botto através da nortenha Quási Editores. “Canções e outros poemas” e “Fátima” foram os dois títulos editados e este ano será publicado “Cartas que me serão devolvidas”.
Pitta defende que Botto continua hoje a ter o interesse do público, até porque tem uma poesia muito musical. O escritor frisou à imprensa, a quando do lançamento dos dois primeiros títulos do poeta que "em Botto, o amor tem género, é masculino, sem medos e afirmativo. Tendo antecipado de forma estridente a evidência da experiência".
António Botto morreu no Rio de Janeiro, para onde se auto-exilara em 1947, depois de ter sido expulso da função pública, vítima de um atropelamento por uma viatura oficial.
Natural de Casal da Concavada (Abrantes) Botto era filho de um homem que trabalhava nas fragatas do Tejo. Ainda menino vem viver para Lisboa, para o bairro de Alfama. Ajudante de livraria durante a juventude, entrou na função pública como escriturário de segunda no Governo Civil de Lisboa, publicou pela primeira vez aos 22 anos, "Flor do mal".
A primeira edição de "Canções" foi mandada apreender em 1922 e gerou até manifestações dos estudantes das escolas superiores de Lisboa contra a obra. Entre esses estudantes, encontrava-se Marcelo Caetano que num artigo se congratulou com o facto de “aquela papelada imunda, que empestava a cidade” /sic/ ter sido cremada no Governo Civil, onde aliás Botto era escriturário.
A estas fortes oposições, além de Pessoa, Botto contava com admiração de Adolfo Casais Monteiro, José Régio e João Gaspar Simões. Todavia e, apesar da apropriação que o fado fez da sua poesia, quando os seus restos mortais vêm para Portugal, em 1965, oito anos após a sua morte, no cemitério do Alto S. João, em Lisboa, estavam apenas no Alto de São João, José Régio, Ferreira de Castro, Natália Correia, David Mourão-Ferreira e os artistas plásticos Luís Amaro e Dórdio Guimarães.
Hoje Botto será ainda um poeta maldito? Ou aquele que teve a coragem de ser e escrever nas primeiras décadas do século XX, o que muitos poetas hoje sendo iguais na condição e na opção preferem a comodidade do meio-termo e uma certa cumplicidade do “talvez”.
(http://www.hardmusica.pt)
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